quarta-feira, 22 de março de 2023

Rio

Acordei nadando a correnteza dos anos da vida.

Como pude ter levado tanto tempo sem perceber

que não carregava mais comigo a criança que fui um dia?

sábado, 21 de janeiro de 2023

uma

humano

humano tentando

humano tentando ser

humano tentando ser humano

ser humano tentando ser 

humano tentando

ser humano tentando ser humano tentando ser humano tentando ser

tentando

tentando

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Corpoplural

Silêncio

o corpo criou dança

em sua própria música,

movimento


Ultrapassando-descompassado

fora da faixa

e além da caixa

de qualquer    ritmo

coração


Na muda madrugada 

respira, movimenta 

o corpo dança a intrínseca toada


Ultrapassa-descompassa 

além da faixa, da caixa 

de qualquer batuque 

coração

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Amo-te

Amo-te
Antes de qualquer palavra
Inteiro efêmero amor eterno

Talvez não te seja simpática
Minha alma artista, exagerada
Que te empresto em arranjo

Essa sede de lua
E o desejo do brinde de duas solidões

Do mergulho profundo
Invertido, o levitar etéreo

Dançam, as forças opostas
Reunidas em um

Inteiramente
Teu
Meu
Amor
-
Dedicatória escrita no livro que dei de presente: 'De amor tenho vivido: 50 poemas', Hilda Hilst.

domingo, 7 de julho de 2013

da gente

Eu crio
e me enrosco às criações

Criação materializada em outrem,
Outrem vai
Enroscado continuo

E demora um tanto até me dar conta que o ideal é impalpável.
E que o abraço é só comigo.
Que a beleza é minha.

Aí os laços frouxos
e a estupidez de querer ver a beleza e querer me entranhar no potencial dela

Até que novamente vejo que o abraço é comigo
e não adianta

Cada eu tenho que me perceber por si próprio
e no fim
é cada um por si.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Box

Aqui. Aqui eu posso. Nesse limitado espaço de metro quadrado sinto liberdade incontável. Eu nu, comigo mesmo. Longe dos olhares me desnudo e me revelo íntima e infinitamente. Num profundo reinventar reflito sobre mim e tudo que eu tenha tocado, com palavras ou olhares.
Transforma a mim também, água, leva embora a sujeira do dia a dia, das podres relações, cinzas e fumaças. Queria eu também ter destino certo, canos e tratamentos a seguir, condicionada, e minha ocupação: escorrer, deslizar acima e abaixo. Queria eu poder ser uma simples gota. Levada e absorvida, aderida entre milhares e milhares de outras gotas desnudas.
Leva embora memórias e cansaços, abrindo espaço para o novo.

terça-feira, 19 de março de 2013

Quero bradar, vou correr, preciso cingir as ondas do mar. 
Ah, mar. Ahr, dor.
 

Chhh
Aahhr
 
Chhhh
 
Aahhhr
 
Fhhhhhhhhhhhxxss

Vento forte; vertical, inclino.
Entre os dedos a dura e gélida areia,
que em sua brancura imensa submersa na penumbra
ri de meus dentes e me lambe em bruma,
lava meu pranto. 
Eu, horizonte, grito: 

Eu sou feliz!
 
Eu sou!
 
Eu Só.