sexta-feira, 17 de abril de 2009

manha da manhã

Sol nasce
dia frio
nublado, mas claro.
Ainda se esconde atrás dos morros
enquanto toda sua vida acorda
neste lado
enquanto outro adormece, ele segue.
Os pássaros, deste, cantam a doce brisa
as ondas calmas anunciam dia manso.
Orvalho ainda presente recebe mais uma dose
leve manta d’água
lentamente encosta as folhas verdes.
Leves gotas levadas
pela brisa matinal
de um dia único.
Cinza-azulado dia frio
cravado na vegetação
concreto, asfalto
química humana.
Aos poucos mais rodas circulam
chiam motores
pneus afastam manta d’água e orvalho.
Mas ainda cantam os pássaros
e brisa assobia mansa
e as ondas borbulham brancas.
Raios de luz dourada surgem por entre véu nublado
cheiro de café
pão com manteiga
aos poucos se dissolvem desprezados
pela paisagem de concreto e ferro.
Os sons dos motores ainda frios sentem sua matéria mãe
desculpam-se por tal natureza volátil, indefesa
transformados em armas contra a própria
gritam desconhecidas.
Mas ainda sim
bate a brisa mansa,
ondas brancas,
piam os pássaros,
raia o sol
de mais um novo dia único
e belo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

"o animal do tempo"

Sobre o vazio do eu
sobre a palavra
não importa a palavra
importa o significado dela pra você
e o valor que ela te traz
identificação
sobre o buscar da vida
o propósito dela
sobre a morte
sobre o que fazemos enquanto encarnados
sobre o não movimento
sobre o movimento
da vida aqui
da vida de lá
ou da vida como um todo
o continuar
o desperdiçar de tempo
sobre a droga
pra mim
tempo perdido
culto ao ócio
Mensagem é que nós andamos para cair
criando o próprio buraco
qual o sentido?
Muitos de nós
acumulamos
coisas
tornamos cada vez mais afastada
visão sobre a vida e o seu trabalho
qual é o itinerário?
As pernas, patas, andam
animal, homem
é o instinto dele dar o primeiro passo
patas andando
em círculo
afinal o mundo é uma bola
a cidade e o trem continuam passando
mesmo de cabeça para baixo
sou eu parte de um
eu um
mais uma cova
animal
caindo a todo buraco à sua frente
Esqueceram a evolução in
individual
individualidade material
egoísmo egocentrismo
animal
antes sublime quanto um pássaro
que sabe da sua dependência grupal
bando quieto
sublime, só som
ação
experiência
a vivência é estipulada
a quem nada aconteceu, eu
só palavras
como um galo as pronuncio cheio de pompa
no meio da multidão
Onde se esconde o pensamento dentro de um divertimento?
Observação sem ação
contradição
dele
minha
assim como qualquer
animal
se esconde na fumaça da cidade
dia a dia
eu múltiplo
dois hemisférios
se cruzam
o da direita, esquerda
o da esquerda, direita
eles se batem
me sinto sugado,
fora
assumo meu eu
que eu sofro
eu assumo que sofro
a identificação
que tem quer ser
observada a partir do seu eu
um deles
algum pensamento
construído a base de memórias
memórias essas que se não vividas
não existiriam
.identifica
quero saber, ter certeza
de que
não é possível isso
também pra você
ou do que a palavra permite confundir
do que é estranho
João pediu pra morrer sem nem saber o nome
a vida dele agora fora
encarna em quem se doa a palavra
para a felicidade de quem doa
de quem fala
conta cada um
cada mais um
dá nome
aos animais que apreciam sua música
canta e dança com eles
mesmo que seus animais sejam calados
atentos a cada nota
joão me falou:
"chega mais perto de você e vive"
os olhos de joão pareciam tristes quando pronunciava:
“Eu sou o homem a quem nada aconteceu”
eu gosto de me condoer com o sofrimento do outro
aprendo muito mais com erros do que acertos
eu também quero falar, joão
deixa eu ouvir quietinho
espera tua semente crescer
eu somo, joão, somo sementes,
somo histórias,
somo identificações
e vou ser feliz também
cantando e existindo de verdade
numa planície
com meus afinados
e errando com eles
joão também deu primeiro passo
em direção a cova
vamos todos morrer, joão
vamos cair em buracos
no plural
levanta-te
para cair novamente
mas levanta-te
cada queda é uma experiência
por enquanto eu penso
as coisas precisam se concretizar
a idealização excessiva já está me irritando
mas acontece
eu penso
eu escuto
quero sair desse buraco
vou estar pensando em sair
na saída
e a vida
continua
.preparação é tudo, preparação
eu não vou sair pronto
mas vou sair forte
seguro
pra falar que eu sou
ou deixar o eu que não sou mas que acredito ser
bom
ser
falar com meu
minha boca articular
meu ventre contrair
meus olhos ver
meu eu
e o que ele

deixar o olhar seu, de alguém
ou meu
misturado com seu
pronunciar, jõao
ver e iluminar o que é
o que existe além das cansáveis palavras
pronunciadas
deliciadas a cada suspiro
meu
seu
ou a falta dele
mas eu acontece
eu será
alguma coisa
. joão também
ele já não
cair nos pequenos buracos da terra
ele animal
cansado.
Eu tropeçarei quando me levantar, na velocidade de dar cambalhotas.
João visitará outros buracos pra se enfiar
Mas talvez nem se chame mais buraco
talvez não seja como o buraco que tem na cabeça dele
ou não seja mais um buraco
palavra sozinha não é nada.
É
mas também não é
demora pra deixar o olho iluminar
é lindo
hipnotizante
quase a palavra é nada
é além de palavra
é imagem cerebral.

24/04/2008, 02:10:06

domingo, 12 de abril de 2009

pre-par-ação

Sinto falta do tempo em que havia tempo pra olhar o céu e ver as estrelas, percebendo companhia. Vejo necessária visão maior, a visão de que somos parte desse todo. Falta mais sintonia com o todo, com todos. Falta mais sintonia, ao mínimo, com o ser terrestre; E com um dos seres mais próximos de nós, que somos nós, humanos, apenas pequenas partículas desse organismo-universo.
Humanos todos iguais. Comem, bebem, vivem, crescem e modificam... pra quê?
Sinto medo do momento em que se tem tempo pra olhar o céu, e sem perceber o exterior, se faça nada, só olhando pra dentro.
Esse dentro é vazio, reflexos doutrora, cheio de coisas não palpáveis. É tempo perdido não olhar pra fora.
É necessário se colocar dentro do grande, do grande que é realmente grande, tão enorme que nem capacidade temos de saber do que se trata. Trata-se de procurar alcançar saber. Olhar pra dentro agir no agora, enxergar-se, de fora.
Cada um vibra, mesmo sendo forte, pequena a vibração se comparada com as ondas do oceano. Mas tudo que é macro começou com o micro.
Perceba tudo a sua volta.
A memória: aquele momento em que se era, era verdade de verdade. O inesperado, a resposta interna: a essência individual daquele agora.
O nosso pequeno infinito particular é tão vasto que se perder é fácil.
Olhar pro agora, se ver fazer; guardar na memória: é saber ser, é ser e saber.
Ser bem, é estar sempre olhando de fora, dentro pra fora, fora pra dentro, até se enxergar como essência em constante movimento.
Ser é estar.
Olhando pra fora é mais fácil se encaixar, ao menos se ver como parte. Fazendo pra fora, se vê perceber, percebendo.
Perceber e se incomodar, com cuidado para não acomodar o que o eu, você e o mundo não gosta; que é banalizado, não se gosta de ver.
Quem incomoda uma hora é incomodado, estressado, sem perceber vive; este olha de dentro pra dentro, sacia aquele agora que passa toda hora.
Olhar, deveria: de dentro pra fora; pra perceber o fora.
Fazer pra fora muda mais dentro do que se imagina. Fazer sabendo do fora.
Fazer pra dentro olhando só pra dentro e sem pensar no fora só é bom naquela hora, naquele agora.
O agora universal é muito mais prazeroso e durável, e palpável; é o infinito que ecoa com sua energia. Grandiosa cada mudança, mesmo sutil.
Olhar pra fora pra ficar bem, sintonizar, se encaixar melhor dentro do infinito universo; movimento da vida.
Ficar bem dentro, olhando pra fora; depois fazer lá fora pra melhorar todos os momentos que virão, voltarão pra dentro, do mundo afora. O mundo responde, faz andar o agora. O nosso agora grande.
A verdadeira felicidade é o aprendizado do belo, ensinado através dos exemplos do movimento da vida; os acasos, os casos, o destino; eu acredito.
É melhor não esperar secar pra se dar conta de que faz falta tudo que era, de graça, facilmente aprendido em exemplos impressionantes do que é belo de verdade.
Tenho receio de que seja necessário ter dificuldade pra comer, beber ou viver para que se perceba que seria possível que todos colaborassem para o todo. Receio o momento em que seja necessário um estrago tão grande causado pelos excessos, que se perceba que é mais saboroso saciar e ver saciado.
Imagino um mundo onde não haja motivo para se desesperar e querer fugir do agora, mesmo que essa dor doa sem se perceber.
Nós agimos e reagimos junto com o universo. Inconscientemente, muitas vezes, respondemos sem pensar ao que nos cerca, é olhando nossa resposta que poderemos ser capazes de enxergar melhor ainda o seu resultado, que reflete no resultado do mundo; a ação é necessária.
Para que haja ação é preciso estímulo? O estímulo é se sentir melhor vendo tudo melhor em volta.
O agora as vezes demora pra passar, e não é fácil porque temos que parar e voltar avenidas, esquinas, becos, encruzilhadas, até encontrar-mos os desvios para então entrar no caminho certo. Recuar não é prazeroso. Porém, quanto mais suportamos sem ceder, mais nossos erros farão perceber presentes, e cada vez mais essa dor vertiginosa, anestesiada, nos afogará. Será necessário todo nosso custoso renascimento para então aceitar e enfrentar o desafio?
Não é tão difícil (re)começar. Basta aceitar o tempo que as coisas levam para se concretizar. Pouco a pouco lutaremos, dia após dia, conscientemente agindo; não esquecer e relaxar, deixando tudo voltar.
Todo processo de reconstrução é um pouco chato, mas podemos ver: depois que se estabelecem, as coisas ficam mais fáceis, dão fôlego para continuar a mudar e melhorar.
É tão claro, muito claro que tudo faz parte de um processo, processo que não sabemos se existe fim. Com todas as mudanças internas, subdivididas.
É tão óbvio que as grandes mudanças partem do mínimo.
Olhe bem nosso tamanho ao olhar para cima.
São muitas as urgências para acelerar o processo de melhora; cabe a nós, se queremos sofrer um baque para então poder recuperar, ou se recuperamos agora a rachadura na represa.
Poderíamos começar enxergando que nós dependemos da união para o aceleramento efetivar. É que nós não temos tempo pra ver todo o resultado. Assim que as coisas são, temos que aceitar o que não podemos mudar, entender que é mais esperta a vida e seu movimento.
Acredito que o primeiro passo seria proporcionar a continuidade desse movimento, preparando os futuros incentivadores dessa aceleração do melhorar. São os frutos a chegar, os germes que começam a olhar agora. Devemos proporcionar a ferramenta do pensamento: o conhecimento.
A coisa mais prazerosa e gratificante é melhorar. É o que temos de mais compensador.
Baseado na simultaneidade da ação e reação: o aprendiz gosta de aprender o que o professor gosta de ensinar. E pra ensinar é necessário bem estar. Poderíamos começar com o respeito, a atenção, a valorização do primeiro, do principal pilar de toda nossa continuidade no processo de melhorar.
Melhorar o todo, se incluindo nele. Mudar a sí é mudar o mundo, a matemática nos prova: (x) contém (y) quadrados; um desses y quadrados vira (z); x não é mais x.
Então começo, aqui, vendo meu próprio pensamento, e gravando na memória. Eu também sofro influências como outros sofrem; todos sofrem. Olhando pra mim guardando esse agora, mexo o lado de fora, mudando a mim mesmo pensando no fora.
As sementes, germinando agora, preservadas, são nossa garantia de que daqui pra frente o processo continue, que já está acontecendo, neste exato momento.
Valorizemos o aprendizado, incentivemos a produção de pensamento, a percepção interior do bem e do mal. Para que o bem predomine.
São tantas pequenas coisas a serem melhoradas. Não gostaria de me sentir pequeno, limitando seu pensamento desse todo, instiguemos a percepção e a descrição de todos os incômodos, para então podermos começar o processo.
Então começo falando do começo do próximo momento, da continuidade de todos os começos e avanços que aparecerão, a partir do momento em que se amplie, cada vez mais, o pensamento, observando todos os germes e ventos incômodos.
Faça-se prazeroso o aprendizado, faça-se mais recompensadora a arte de ensinar. Esse movimento deve partir de todos, cada grande movimento deve ser feito por todos, mas começa aos poucos. É preciso entendimento e paciência com os desgostosos da profissão atuantes atualmente, em seu objetivo: ensinar, fazer interessar, aproximar o mundo do aprendiz.
Disseminar o rótulo aprendiz, porque o professor também é iluminado pela visão, pelo reflexo da sua própria luz, dos que enquanto estão livres das impurezas do tempo.
Reagir, reagiremos, todos, às desarmonias incômodas que já estão antes de serem vistas.
Hoje, dia após dia.
Comecemos por nós, cada um que sofre, cuidando primeiro das novas sementes, para recuperar depois os outros já cascudos.
Memória - agora - futuro - agora - futuro...

GC
31/05/2008, 12:09:00